Salvo pela Graça e Misericórdia
(Sugestão).
Ler juntamente com a Historia de Jonas e Lucas 15 (filho pródigo).
Quando somos marcados por Deus para algo específico, não adianta fugirmos, Ele irá atrás de nós, criará situações que te levem a buscá-lo, ou ao lugar onde Ele quer começar a sua Obra em nós.
se lance Nele, não espere que Ele o alcance sem está em sintonia com a vontade Dele....
Salvo Pela Incrível Graça - A História de John Newton
Bruce Scott
John Newton era pastor de uma igreja crescente em Olney, na
Inglaterra, quando compôs a letra daquele que talvez seja o hino mais conhecido
até hoje – Amazing Grace(i.e., “Incrível Graça”). Newton estava
satisfeito naquele contexto de vida campestre. Ele tinha uma esposa carinhosa
ao seu lado, desenvolvia um bom ministério pastoral e estava cercado de pessoas
amáveis. Naquele momento, Newton desfrutava de uma ótima vida. Mas, 25 anos
antes, sua vida estava em ruínas.
Newton nasceu em Londres no dia 24 de julho de 1725. Seu
pai, um capitão de navio mercante, o amava, porém era um homem severo e
reservado. Por outro lado, a mãe de John era uma mulher atenciosa e cuidadosa.
Ela lhe ensinou as Escrituras – capítulos inteiros da Bíblia de uma vez – bem
como hinos e poemas. Infelizmente, a mãe de John Newton morreu, duas semanas
antes que ele completasse sete anos de idade, e, pouco tempo depois, seu pai
casou-se novamente.
Quando o novo casal teve seu próprio filho, ambos deram mais
atenção e carinho a este do que a John Newton, de modo que John deixou-se levar
pela companhia influente de garotos pervertidos, aprendendo a andar nos
sórdidos caminhos que eles trilhavam. Com a idade de 11 anos, ele fez a
primeira das cinco viagens marítimas na companhia de seu pai, durante a qual
rapidamente aprendeu a xingar e amaldiçoar com os melhores marujos.
Entretanto, durante os cinco anos que se seguiram, John se
viu forçado a refletir seriamente sobre a condição de sua alma. Certa feita
faltou pouco para que John Newton embarcasse num navio de guerra que levava a
bordo um amigo dele. Mais tarde, todavia, ele soube que aquele navio naufragara
e que seu amigo, junto com vários outros tripulantes, tinha morrido afogado.
John Newton
Também foi nessa época que Newton teve um sonho perturbador
no qual ele jogava fora um anel que representava toda a misericórdia que Deus
lhe reservara. Essas experiências pesaram de forma tremendamente condenatória na
consciência de Newton e, por algum tempo, impeliram-no a tratar as questões
espirituais com mais seriedade. Contudo, passados alguns dias, ele logo se
esquecia daquilo que o levara à sobriedade e continuava sua queda vertiginosa
na espiral da perversidade. Newton afirmou: “Eu geralmente considerava a
religião como um meio necessário para se escapar do inferno; mas eu amava o
pecado e não estava disposto a abandoná-lo”.[1]
Aos 19 anos de idade, Newton foi obrigado a se alistar como
aspirante da Marinha para servir no navio HMS Harwich. Passado
algum tempo, ele desertou, foi capturado, encarcerado, açoitado a bordo do
navio, fustigado com chicote de nove tiras, e rebaixado. Então Newton entrou em
terrível depressão e desespero, que o levaram, por vezes, a querer se lançar ao
mar e a planejar maneiras de assassinar o capitão que o humilhara. Entretanto,
não demorou muito para que a situação dele mudasse, quando o capitão de seu
navio fez uma permuta entre ele e marinheiros de um navio que estava preste a
zarpar para a África Ocidental à procura de escravos.
A Época no Tráfico de Escravos
Em meados de 1700, o tráfico de escravos era um negócio
lucrativo. Mais de 100 mil escravos foram trazidos para o Novo Mundo em navios
ingleses.[2] William E. Phipps escreveu: “No século XVIII, a média de
mortalidade dos escravos durante o trajeto [da África para algum porto no
Caribe ou nos Estados Unidos, onde eram vendidos] em navios ingleses era de
aproximadamente quinze por cento”.[3] Cerca de 15 mil escravos africanos morreram
a bordo de navios ingleses nessa época.
Em seu novo ambiente, Newton não fez absolutamente nada para
ser benquisto pelos oficiais do navio. Ele compôs uma cantiga de escárnio para
ridicularizar o capitão do navio e a ensinou para a tripulação inteira. Após
capturar uma lucrativa quantidade de escravos, Newton ganhou a permissão de
ficar na África, ao longo da costa da Guiné, onde trabalhava para um traficante
de escravos inglês que vivia com uma amante africana. Essa mulher não gostava
de Newton. Quando Newton contraiu malária, ela o tratou cruelmente, com
insultos e subnutrição para que morresse de fome.
Tempos depois, Newton foi injustamente acusado de roubar o
traficante inglês. Ele ficou acorrentado com cadeias no convés do navio daquele
homem e foi mantido com pouca comida, água e roupa. Na verdade, ele se tornou
escravo daquele homem e, por ironia do destino, recebeu o mesmo tratamento com
o qual eram tratadas as pessoas que tinham sido escravizadas com a ajuda dele.
Esse tormento durou um ano, até que Newton convencesse seu
dono a cedê-lo para um outro traficante de escravos. Seu novo senhor tratou-o
com bondade e o colocou na supervisão das “feitorias” (prisões para escravos
localizadas nos portos).
Apesar dos olhos vigilantes de seu antigo senhor traficante
de escravos, Newton conseguiu enviar algumas cartas para seu pai, nas quais
pedia socorro. Certo dia, um navio mercante denominado Greyhound [i.e.,
“cão pernalta e veloz”] chegou onde Newton estava. Ele fora enviado àquele
lugar por ordem do pai de John Newton. A princípio, Newton hesitou em deixar
seu negócio que a essa altura já era lucrativo, mas, por fim, concordou em
voltar à Inglaterra. Newton foi mantido cativo na África por 15 meses ao todo.
A bordo do Greyhound em sua viagem de
volta, Newton demonstrou ser o homem mais profano e devasso do navio. Certa
noite, ele estava tão bêbado, que quando seu chapéu caiu no mar pela força do
vento, se outro marujo não o agarrasse pela roupa, ele teria se lançado nas
águas em busca do chapéu.
Mais tarde naquela viagem, Newton folheou um dos poucos
livros que havia a bordo –Imitation of Christ [i.e., “Imitação de
Cristo”]. Newton começou a ler esse livro como um mero passatempo, mas, depois,
passou a se perguntar o que lhe aconteceria se aquilo que nele estava escrito
fosse verdade. Ele ficou com medo e fechou o livro.
Atingido Pela Tempestade
Naquela noite de 21 de março de 1748, uma violenta
tempestade se abateu sobre o navio, que por pouco não afundou. Homens, animais
e provisões foram arrastados pela força das águas e caíram no mar. Newton orou
a Deus pela primeira vez depois de anos. Ele temia estar à beira da morte e, se
a fé cristã fosse verdadeira, estava certo de que não seria perdoado. John
refletiu em tudo o que fizera naqueles últimos anos, inclusive a atitude de
zombar dos fatos históricos do Evangelho, e ficou abalado.
Em meados de 1700, o tráfico de escravos era um negócio
lucrativo. Mais de 100 mil escravos foram trazidos para o Novo Mundo em navios
ingleses.
Passados quatro dias, a tempestade diminuiu. Pela
providência de Deus, a cera de abelha, que se encontrava no porão de carga,
ajudou que o navio continuasse a flutuar. Newton atribuiu a Deus aquele
livramento que tiveram. Ele começou a ler o Novo Testamento com mais interesse.
Quando chegou à passagem de Lucas 15, John percebeu os impressionantes
paralelos entre a sua vida e a vida do filho pródigo.
O navio ficou à deriva por um mês. Os suprimentos se
esgotaram. O capitão culpou a blasfêmia de Newton como a causa dos problemas
que enfrentavam e cogitou a hipótese de jogá-lo ao mar, à semelhança de Jonas.
O navio avariado finalmente conseguiu seguir seu rumo para a Irlanda do Norte,
a tempo de não ser apanhado por um vendaval que começava a ocorrer. Newton
reconheceu que Deus respondera sua oração.
Ao chegarem em terra firme, Newton tomou a decisão de não
mais xingar e blasfemar. Ele chegou a voltar para a igreja. Entretanto, ainda
não era um crente em Jesus. Mais tarde ele declarou: “Penso que aquele foi o
início de meu retorno para Deus, ou antes, o retorno dEle para
mim; contudo, só considero que vim a ser crente em Cristo (no sentido pleno da
palavra crente) muito tempo depois daquele momento”.[4]
Regenerado Pela Fé
Em 1749 Newton zarpou como primeiro piloto de um navio
negreiro. A essa altura, ele já tinha se esquecido do compromisso que assumira
e recaiu nas antigas práticas pecaminosas. Enquanto buscava escravos ao longo
da costa ocidental da África, John Newton foi novamente acometido de malária,
situação que o levou a refletir mais uma vez sobre a sua vida. Diante das
misericórdias de Deus para com sua vida, ele estava absolutamente convicto da
culpa pelos erros que recentemente cometera. Meio delirante e enfraquecido,
Newton se levantou da cama e caminhou com dificuldade até um lugar afastado da
ilha. Naquele local, percebendo a futilidade de tomar decisões autoconfiantes,
“ele se entregou ao Senhor”, escreve Richard Cecil, “para que Deus fizesse com
ele aquilo que fosse do Seu agrado. Ao que parece, nada de novo acontecia em
sua mente, exceto o fato de que ele estava apto para confiar e crer num
Salvador crucificado”.[5] A incrível graça de Deus preciosamente se manifestou
no exato momento em que John Newton creu pela primeira vez.
Daquele momento em diante, a vida de Newton mudou
gradativamente. No começo, como acontece com a maioria dos crentes, ele não
percebia todas as áreas de sua vida que precisavam ser transformadas pela graça
de Deus.
Por exemplo, por cinco anos, ele enfrentou lutas quanto à
certeza de sua salvação. Todavia, através do encorajamento dado por outro
capitão de navio, que também era crente em Cristo, as dúvidas foram vencidas,
conforme Newton declarou: “Eu comecei a entender [...] e a ter esperança de ser
preservado e salvo, não por meu próprio poder e santidade, mas pelo imenso
poder e promessa de Deus, através da fé num Salvador imutável”.[6]
A mudança mais evidente na vida de Newton se deu na área do
tráfico de escravos. Um ano antes de crer em Jesus Cristo, John Newton se
tornou capitão de um navio negreiro. Nos quatro anos seguintes à sua salvação,
Newton realizou três viagens com o intuito de buscar escravos na África e
levá-los para serem vendidos no Caribe. Durante essas viagens, Newton liderou
sua tripulação em cultos de adoração e em momentos de oração. Contudo, ele
também foi forçado a sufocar rebeliões de escravos, chegando a ponto de
utilizar instrumentos de tortura para apertar polegares a fim de arrancar
confissões.
Mais tarde, Newton se conscientizou de que o tráfico de
escravos e sua participação nele eram algo moralmente ultrajante e repulsivo.
Ele afirmou: “a força do hábito, o exemplo e o interesse [comercial] cegaram
meus olhos”.[7]
A partir do momento em que o Espírito Santo convenceu John
Newton dos males e pecados envolvidos no tráfico de escravos, ele passou a
trabalhar incansavelmente para extingui-lo num esforço de décadas. Ele foi
orientador e conselheiro de um crente em Cristo mais novo do que ele, chamado
William Wilberforce, o qual atuou no Parlamento Britânico. Wilberforce se tornou
o mais notável e eficaz abolicionista da história da Inglaterra. Alguns meses
antes da morte de Newton, ocorrida em 21 de dezembro de 1807, o Parlamento
Britânico aprovou o Decreto da Abolição do Tráfico de Escravos, o que muito
alegrou Newton.
A Ternura da Graça
Antes de experimentar a graça salvadora de Deus, John Newton
não tinha o menor receio de xingar e proferir palavrões quando relampejava, de
blasfemar contra o Deus do céu, de zombar da Bíblia, de ridicularizar a
consagração a Deus, de se envolver em atos depravados, nem o mínimo escrúpulo
de comprar e vender seres humanos como se fossem objetos ou mercadorias.
Entretanto, John Newton mudou completamente após a sua
conversão. Mais tarde, ele se tornou pastor e exerceu o ministério pastoral por
23 anos, sempre salientando em seus sermões o tema da graça de Deus. Ele compôs
e publicou centenas de hinos, inclusive o hino intitulado How Sweet the
Name of Jesus Sounds [que traduzido quer dizer: “Quão doce soa o nome
de Jesus”] (um nítido contraste com a época blasfema de sua vida pregressa),
bem como demonstrou incessante hospitalidade em sua casa.
Ele manteve comunhão com alguns dos mais notáveis nomes do
avivamento evangélico na Inglaterra, tais como George Whitefield e John Wesley;
ensinou e encorajou pessoas influentes como o grande missionário William Carey,
o poeta William Cowper, e o abolicionista William Wilberforce; além disso,
tornou-se um dos maiores defensores do fim da escravidão na Grã-Bretanha.
Como explicar tamanha transformação na vida de um homem?
Semanas antes de sua morte, já velho e debilitado, Newton explicou: “Minha
memória praticamente se foi; mas ainda consigo me lembrar de duas coisas: que
eu sou um tremendo pecador e que Cristo é um tremendo Salvador”.[8] (Bruce
Scott - Israel My
Glory - http://www.chamada.com.br)
Notas:
- Richard
Cecil, The Works of the Rev. John Newton, 3ª ed., vol. 1,
1824; reimpressão, Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1985, 1:4.
- William
E. Phipps, Amazing Grace in John Newton: Slave-Ship Captain,
Hymnwriter, and Abolitionist, Macon, GA: Mercer University Press,
2001, p. 63.
- Ibid.,
p. 60.
- Cecil,
p. 33.
- Ibid.,
p. 37.
- Phipps,
p. 66.
- Ibid.,
p. 202.
- Ibid.,
p. 238.
Boa leitura .
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